21 de maio - 16 de julho de 2022
Galciani Neves

Coquinho, 2022
Fernanda Galvão
Carvão, pastel oleoso, pastel e óleo sobre linho
80 x 120 cm

A Boa Esperança, 2020
Selva de Carvalho
Carvão, cinzas, pastel seco e bordado sobre tecido de algodão
200 x 150 cm

das tripas, devoção, 2020
Selva de Carvalho
Bordado em tecidos variados, sobrepostos em camadas
90 x 55 cm

Rosa dos ventos, 2021
Tiago Sant'Ana
Açúcar, resina e fibra de vidro
73 x 73 x 4 cm
R$ Sob Consulta | US$ On Request
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Ovo Cósmico , 1980/2020
Regina Vater
Tinta alquídica sobre casca de ovo de avestruz
Edição: 3 + 1Pa (3/3)
27 x 35 x 35 cm

Notícia (pão de hoje s/ pão de ontem), 2017/2022
Mayana Redin
Farinha de trigo, água, fermento, pão francês
Edição: 20 + 3P.A.
dimensões variáveis

Líquidos Perfeitos, 2008
Marta Jourdan
Madeira, Aço inox, vidro, material eletroeletrônico e água
80 x 28 x 28 cm
A mostra Entre a estrela e a serpente apresenta trabalhos que dialogam, valem-se e nutrem-se de distintas reflexões sobre o tempo. E esses tempos narrados aqui (o fim de uma estrela, o rastro de uma serpente, orientações provenientes de observações de fenômenos celestes que pautavam a vida) são histórias de mundo, são agentes de contextualização que aproximam os trabalhos enquanto simultaneamente também os diferenciam em suas provocações. Situar concepções de tempo entre a estrela e a serpente é uma estratégia para tentar vislumbrar alguns espectros de apreensão do tempo e as muitas interrogações que envolvem tais percepções. Tempos que a vista alcança, por assim dizer.

Number of Days and Hours of my Life, 2018
Ana Amorim
Acrílico e caneta sobre papel
35,5 x 43 cm | 20 x 21 cm

Tererê, 2021
Ilana Tzirulnik
Cabo de vassoura, alumínio, fio de vassoura, plástico, conchas e craca
72 x 12 x 2 cm

Exótica tropical, 2021
Ilana Tzirulnik
Bóia, craca, cabo náutico, galho seco e fio de aço
90 x 25 x 15 cm
Vale também ressaltar que outro disparador importante para a mostra de caráter ensaístico, é o que se associa quase que de imediato com símbolos visuais próprios do gênero pictórico natureza-morta: a fugacidade da vida, a futilidade das vaidades, a inevitabilidade da morte, as frutas que apodrecem, a ampulheta instaurando a passagem e a implacabilidade do tempo, a anatomia de bichos mortos, a vida silenciosa e em pausa da matéria inanimada, a investigação do poder expressivo dos objetos do cotidiano em constituições intimistas de espaço. Essas imagens não foram necessariamente traduzidas ou apropriadas pelos artistas da mostra, mas antes, são instâncias postas em convivência.

Natureza morta com produtos e objetos brancos, 2016
Ana-Elisa-Egreja
Óleo sobre tela
50 x 60 cm

Procurando a raiva que preciso sentir dos outros em mim, 2022
Heloisa Hariadne
Acrílica e bastão de óleo sobre tela
163 x 121 x 4 cm
O que distingue esses compêndios de trabalhos – os relacionados ao gênero natureza-morta e os contemporâneos – são, principalmente, os contextos que os circundam. Se, para as produções europeias dos séculos XVI e XVII estava em jogo celebrar o excedente agrícola, o mercantilismo e os gabinetes de curiosidades, os trabalhos aqui apresentados, produzidos no Brasil recentemente, narram um contexto de “pós-tudo”, de insegurança alimentar, de imposição de um ritmo de produção que exaure a terra, de distopia, de um mundo em declínio, do ponto de não retorno, do medo de perder o mundo… Narram a ansiedade, a desorientação, a falta de um possível onde não sufocar. Há horizonte para os humanos? Ou somos um breve capítulo na história do planeta, muito próximo de suas últimas páginas? Quantas vezes você já se pegou tentando situar certos acontecimentos? Antes ou depois da pandemia? 2020 é um ano que se arrasta até agora? E sobre isso, a linguagem, aquilo que se impregnou nos nossos corpos ou de que não ousamos nos desapegar, os nossos restos de mundo e a imensidão de coisas materiais que aglomeramos são registros e índices de um ambiente antropizado e agonizante.

Septem Sermones, 2021
Felipe Seixas
Pigmento mineral sobre papel algodão
Edição: 3 + 2 P.A.
53 x 86 cm

Sem Título, 2022
Felipe Seixas
Areia, pedra, concreto e PLA (impressão 3d)
150 x 280 x 200 cm

Adaptação, 2022
Raquel Garbelotti
Arquitetura e projeto: Murillo Paoli
Arquitetura: Karlos Rupf
Paisagismo: Lilian Dazzi
Esculturas em Cimento e plantas
Edição: 3 + 1P.A.
98 x 60 x 60 cm

Adaptação, 2022
Raquel Garbelotti
Arquitetura e projeto: Murillo Paoli
Arquitetura: Karlos Rupf
Paisagismo: Lilian Dazzi
Esculturas em Cimento e plantas
Edição: 3 + 1P.A.
42 x 60 x 90 cm

Adaptação, 2022
Raquel Garbelotti
Arquitetura e projeto: Murillo Paoli
Arquitetura: Karlos Rupf
Paisagismo: Lilian Dazzi
Esculturas em Cimento e plantas
Edição: 3 + 1 P.A.
112 x 60 x 60 cm
Também estão presentes na Galeria Leme trabalhos que atualizam modos de fazer e pensar os enquadramentos, os temas, as composições, as motivações da natureza-morta. Vestir corpos pretos de frutas de plástico, produzir retratos-paisagens, escrever o tempo na casca de um ovo, contar os segundos e perceber que isso é vida, forjar e desacelerar acontecimentos, inventar anatomias, pensar o tempo no corpo, reter o tempo no gesto, aliar-se à matéria orgânica e aprender com isso, confrontar a ruína, reverenciar a passagem, a reformulação e o acontecimento do tempo, querer estar no ritmo, tornar rígido o movediço, fazer pintura e ser espaço, avistar naturezas-mortas no cotidiano, mudar a escala do ornamento e da arquitetura, questionar a arquitetura, escrever os ciclos dia-noite, noite-dia são procedimentos que se entrecruzam entre os trabalhos de artistas de distintas gerações. Sem a menor intenção de abarcar um arco temporal ou comprovar uma afinidade formal-conceitual entre os trabalhos, a mostra Entre a estrela e a serpente propõe embates e conversas entre esses gestos de invenção de tempos que se impregnam em letras, formas e cores, que escorrem pelos cenários e que estão imantados nos contornos e nas texturas dos objetos.

Estudos sobre natureza-morta #4, 2015-2020
Adriano Machado
Estudos sobre natureza-morta #4, 2015-2020
Impressão pigmento mineral sobre papel algodão
Edição: 5 + 2 PA
60 x 90 cm

Estudos sobre natureza-morta #6, 2015-2020
Adriano Machado
Estudos sobre natureza-morta #6, 2015-2020
Impressão pigmento mineral sobre papel algodão
Edição: 5 + 2 PA
78 x 110 cm

Estudos sobre natureza-morta #7, 2015-2020
Adriano Machado
Estudos sobre natureza-morta #7, 2015-2020
Impressão pigmento mineral sobre papel algodão
Edição: 5 + 2 PA
78 x 110 cm

Estudos sobre natureza-morta #8, 2015-2020
Adriano Machado
Estudos sobre natureza-morta #8, 2015-2020
Impressão pigmento mineral sobre papel algodão
Edição: 5 + 2 PA (1/5)
78 x 110 cm

Estudos sobre natureza-morta #10, 2015-2020
Adriano Machado
Estudos sobre natureza-morta #10, 2015-2020
Impressão pigmento mineral sobre papel algodão
Edição: 5 + 2 PA (1/5)
60 x 90 cm

Movimento #1, 2017
Simone Moraes
Papel manteiga amassado e cera de abelha
dimensões variáveis

Franja, 2022
Aline van Langendonck
Cabelo, linho, acrílica e enchimento acrílico
19 x 30 x 8 cm

Donut (cabeluda), 2002-2020
Aline van Langendonck
Cabelo, elástico de cabelo e enchimento para coque
10 x 10 x 27 cm

relógio: dias de areia:, 2015
Hélio-Fervenza
Vídeo em looping, MP4
Edição: 5 + 1 P.A.
1920 x 1080 px
Oxalá, que os gestos de Adriano Machado, Aldemir Martins, Aline van Langendonck, Ana Amorin, Ana Elisa Egreja, Aislan Pankararu, Eleonore Koch, Felipe Seixas, Fernanda Galvão, Helio Fervenza, Heloisa, Hariadne, Ilana Tzirulnik, Julia Mendonça Gallo, Marta Jourdan, Mayana Redin, Neves Torres, Raquel Garbelotti, Regina Vater, Selva de Carvalho, Simone Moraes, Susanne Schirato, Tiago Mestre e Tiago Sant’Ana nos façam crer que olhar o tempo redesenha as coisas, refaz o mundo. E que possamos olhar, desenhar e nos projetar para um momento futuro muito próximo e cheio de possíveis. Uma explosão, voos de detritos em busca de uma nova ordenação de ser, uma gigantesca ranhura desenhada por Boiúna que instaure outros tempos, corpos-estrelas habitando Gaia. “E aquilo que nesse momento se revelará aos povos/ Surpreenderá a todos não por ser exótico/ Mas pelo fato de poder ter sempre estado oculto/ Quando terá sido o óbvio” [2].
[1] Géza Szamosi, Tempo e espaço: as dimensões gêmeas, 1988.
[2] Trecho da canção “Um índio”, de Caetano Veloso, lançada no álbum Bicho, em 1977.