“On the outside / grows the furside / on the inside / grows the skinside / so the furside / is the outside / and the skinside / is the inside / oneside likes the / skinside inside / and the furside / on the outside / others like the / skinside outside / and the furside / on the inside / if you turn the / skinside inside / thinking you will / side with that / side then the / softside fursides / inside which / some argue is / the wrong side / if you turn the / furside outside / as you say it / grows on that side / then your outsides / next to skinside / which becomforts / not the right side” Scott Walker.
Neste novo projeto, desenvolvido especialmente para a Galeria Leme, João Pedro Vale apresenta peles de animais imaginários feitas com guardanapos de papel coloridos, além de três pinturas feitas com plasticina que reverenciam o modernismo brasileiro. Em todas as obras, artista recorre à idéia de exotismo como questão de identidade e pertencimento sociocultural, filtrado quer pela sensibilidade de quem o elabora quer pelo contexto histórico-cultural da sua produção e posterior recepção.
Para João Pedro Vale, a idéia de pele tem vários significados. O mais importante para o artista, no entanto, é pensar a pele como forma de catalogação e diferenciação da espécie humana por um lado e por outro, como forma de falar sobre a miscigenação e sua importância na cultura brasileira.
As três pinturas, por sua vez, enfatizam cada uma à sua maneira, a questão da cor da pele. São interpretações livres de “Antropofagia”, de Tarsila do Amaral, “O Homem de sete cores”, de Anita Malfatti e “Cinco moças de Guaratinguetá”, de Di Cavalcanti, ícones do modernismo brasileiro. Tais livres interpretações dialogam de maneira complementar e ao mesmo tempo complexa com as peles de guardanapo de papel, direcionando o espectador à leitura das peles pretendida pelo artista e levantando questões de caráter ambíguo.
O trabalho de João Pedro Vale tem-se caracterizado pela reflexão em torno da idéia de identidade nacional e dos mecanismos responsáveis pela sua construção. O artista recorre inúmeras vezes a episódios históricos e mitologias do seu país para questionar a forma como estes foram utilizados em relação à situação política vigente, que enaltece ou ignora determinados acontecimentos conforme eles possam servir ou não à determinados propósitos ideológicos. Dada a relação entre Portugal e Brasil é inevitável que surjam projetos que reflitam sobre questões relacionadas com as situações socioculturais dos dois países.
Se em “Bonfim” (2004), apresentado na Estação Pinacoteca em 2005, se refletia sobre a idéia de viagem e trocas iconográficas e religiosas entre os dois países, já “Misericórdia” (2005) era apresentada como uma ironia às trocas comerciais entre metrópole e colônia e à exploração do ouro do Brasil. Outro exemplo desta abordagem é “Foi Bonita a Festa, Pá!” (2006), uma jangada de madeira, toda incrustada de cravos de plástico, garrafas da cerveja portuguesa Sagres e suas tampinhas, primeira apresentação do artista na Galeria Leme, uma alusão aos regimes ditatoriais vividos por ambos os países.