Para a ZONAMACO 2024, a Galeria Leme e Livia Bena- vides 80m2 apresentam um projeto conjunto que aborda a diversidade de suas coleções. Oito artistas foram sele- cionados para participar, surgindo de um interesse mú- tuo em celebrar a representação de Sandra Gamarra no pavilhão espanhol na 60a Bienal Internacional de Arte de Veneza.
Para a ocasião as galerias apresentam obra “Fatima”(2008) de Sandra Gamarra, uma obra de grande porte que foi exibida em sua exposição “At the Same Time (Al Mismo Tiempo)” no BASS Museum em Miami, em 2011. O tríptico retrata três indivíduos ajoelhados diante da escultura “The Tree” de Alexander Calder no jardim da Fundação Beyeler, em Basel. De acordo com Max Hernández-Calvo, Gamarra utiliza simultaneamente as formas triangulares na base da escultura para fazer referência à arte religiosa peruana da era colonial, na qual pintar um triângulo representava tanto a Virgem Maria quanto a divindade indígena da montanha, Apu Wamani. No entanto, Hernandéz-Calvo insinua que o uso da peça geométrica abstrata de Calder nos remete ao futuro, em direção à arte moderna. Conectando dois domínios da arte e da religião, levanta a questão: o que nos permite considerar a obra de arte como tal, em oposição a um objeto de culto?
A Galeria Leme mostrará produções recentes de Ana Elisa Egreja, Rebeca Carapiá, Frederico Filippi. Dentre elas, três pinturas da série “Caquinhos e panos de prato” de Ana Elisa Egreja. Neles a artista revisita trabalhos anteriores, redescobrindo um processo de utilização de assemblagem para alcançar tridimensionalidade em suas peças. Seu foco ainda está em retratar a memória afetiva de espaços interiores; no entanto, os elementos nostálgicos estão ao alcance. Eles são reais e encaram diretamente você, desafiando-o a agarrá-los e entrar na toca do coelho. Originados da sintaxe de um piso cerâmico fragmentado que foi popularizado no Brasil durante as décadas de 1940 e 50. Os azulejos vermelhos servem como pano de fundo para um cenário fantasioso onde os panos de prato são personagens principais. Egreja alcança isso repetindo, mesclando e materializando símbolos para convergir elementos formais da pintura com uma nova imagética kitsch brasileira.
A série “Sustento” de Rebeca Carapiá apresenta esculturas em formas sinuosas que consolidam e experimentam a complexidade de seu processo criativo. A artista parte da criação de objetos suspensos que deveriam se apre- sentar “melhor” no espaço, mas, por sua própria natureza, convidam à tensão, desequilíbrio e impermanência. Através de seu vocabulário imagético, Carapiá utiliza a materialidade dessas peças para explorar como nossos corpos no mundo, seu cansaço e desejos, são colocados como elementos no presente.
Os desenhos de Frederico Filippi exploram a ideia de Horror Vacui, o termo usado para descrever o medo de ter ou deixar um espaço vazio. Que fora adotado pelas artes visuais durante a Era Vitoriana, mas que também retratava o sentimento de cartógrafos que costumavam desenhar ornamentos para preencher cantos desconhecidos dos mapas. Na série, Filippi se inspira nos desenhos fictícios e fantasiosos de mapas, nos quais as rotas eram labirintos e os protagonistas poderiam ser monstros criados pelos marinheiros que temiam o desconhecido. Assim, lidando com a ideia de desordem e desorientação que contradiz à ideia de ordem criada pela civilização moderna.
As obras selecionadas refletem a produção diversificada e multifacetada desses artistas, demonstrando sua habilidade em dialogar com várias áreas por meio de suas criações. Além disso, exemplificam a rica diversidade presente nas coleções das galerias, que estão intrinsecamente conectadas entre Lima e São Paulo.