SANDRA GAMARRA APRESENTA “PINACOTECA MIGRANTE” NO PAVILHÃO ESPANHOL DURANTE A 60ª BIENAL DE VENEZA

11/04/2024

 

O Ministério das Relações Exteriores, União Europeia e Cooperação da Espanha, por meio da Agência Espanhola de Cooperação Internacional para o Desenvolvimento (AECID), em colaboração com a Acción Cultural Española (AC/E), apresenta mais detalhes da Pinacoteca Migrante, desenvolvida por Sandra Gamarra para o Pavilhão Espanhol na 60ª Exposição Internacional de Arte da La Biennale di Venezia 2024. Como a primeira artista migrante escolhida para representar a Espanha, Gamarra utiliza o museu como eixo principal do projeto, como narradora de grandes histórias, cujos métodos de representação foram assumidos como “universais”. A Pinacoteca Migrante/Migrant Art Gallery é curada por Agustín Pérez Rubio.

Gamarra transformará o Pavilhão Espanhol em uma galeria histórica de arte ocidental onde a noção de “migração”, em suas muitas facetas, será a protagonista. O conceito ocidental da galeria de arte, que foi exportado para as antigas colônias, é invertido, expondo uma série de narrativas historicamente silenciadas. Assim, a Pinacoteca Migrante responde à acessibilidade, diversidade e sustentabilidade dentro de um quadro institucional e insere contextos contemporâneos em relação ao racismo, migração ou extrativismo. Os protagonistas são os migrantes, tanto humanos como não-humanos: organismos vivos, plantas e matérias-primas que frequentemente fizeram a viagem de ida e volta à força.

A extensa pesquisa realizada por Gamarra também será refletida em uma série de novas obras cujo ponto de partida são pinturas, desde a época do Império até o Iluminismo, de coleções de arte e museus em toda a Espanha. Estas obras interferem na falta de narrativas decoloniais nos museus e analisarão as representações tendenciosas entre colonizadores e colonizados. Sociologia, política, história da arte e biologia estão entrelaçadas nesta pesquisa.

O espaço central aberto do Pavilhão Espanhol será ocupado pelo Jardim Migrante, que se apresenta como uma contra narrativa ao museu histórico. Este jardim é habitado por doze monumentos que lembram de personagens-chave das comunidades colonizadas. No verso de cada escultura, você pode ler sobre as figuras ou culturas a que se referem.

A primeira sala, intitulada Terra Virgem, lidará com pinturas de paisagens que pertencem a diferentes museus espanhóis e referem-se ao território espanhol atual, bem como às antigas colônias da América Latina, Filipinas e Norte da África. Citações de escritores, pensadoras ecofeministas ou intelectuais serão sobrepostas a cada pintura.

Será seguido pela sala intitulada Gabinete da Extinção, que ligará o colonialismo ao extrativismo, mostrando os “tesouros” das expedições botânicas europeias durante os séculos XVIII e XIX. Gamarra pintará algumas das fac-símiles das ilustrações da “Expedição Botânica Real ao Reino da Nova Granada”, incluindo mãos humanas como parte do mesmo sistema de sobrevivência interdependente.

O espaço intitulado Gabinete do Racismo Ilustrado apresentará a forma como a antropologia e a ciência foram usadas como ferramentas de discriminação racial. Incluirá ilustrações e objetos rotulados como “científicos” na época, para apoiar a ideia de classificação e impor a vontade ocidental de superioridade hierárquica sobre o Sul Global.

A sala intitulada Máscaras Mestiças adentrará nas práticas coloniais de retrato, que foram concebidas como cápsulas do tempo que buscam imortalizar normas políticas e sociais. Cada obra exporá a maneira como as sociedades aceitam ou marginalizam seus sujeitos. Consequentemente, deslocará divisões de gênero para questionar a estrutura patriarcal como uma norma naturalizada.

A galeria central, intitulada Retábulo da Natureza Moribunda, mostrará a pintura de naturezas-mortas como um gênero que sintetiza os temas das salas anteriores e, por sua vez, mostra as maneiras como habitamos o mundo. Este grande políptico revelará noções de acumulação e ostentação promovidas pela sociedade ocidental.

Finalmente, o Jardim Migrante será habitado por cópias pintadas de monumentos, bem como representações de plantas alienígenas ou invasoras. Este pátio é apresentado como um lugar de restituição de obras não tornadas visíveis na metrópole. Aqueles representados aqui fizeram uma jornada simbólica, como plantas alienígenas, encontraram solo para ficar. Apresenta a visão de que a alteração dos ecossistemas deve ser valorizada e medida a partir de uma perspectiva em que todas as espécies vivem harmoniosamente sem hierarquias.

A Pinacoteca Migrante tem como objetivo fornecer um modelo que atualize os protocolos de acessibilidade, diversidade e sustentabilidade das instituições, desmantelando as estruturas que perpetuam as hierarquias hegemônicas do colonialismo.