MAM SÃO PAULO ESTREIA OBRA DE FREDERICO FILIPPI EM SEU JARDIM DE ESCULTURAS

09/12/2022

A obra efêmera intitulada Cobra Grande terá o formato de uma corrente de desmate, ferramenta utilizada em derrubadas de mata no território amazônico, e contornará o Jardim em frente ao museu

O Museu de Arte Moderna de São Paulo – MAM São Paulo – apresenta a partir de 10 de dezembro uma nova obra em seu Jardim de Esculturas, localizado no Parque Ibirapuera. Assinado pelo artista Frederico Filippi, o site specific Cobra Grande (2022) será uma obra temporária, de caráter efêmero, tendo em vista sua composição, que faz com que esteja sujeita às condições do dia a dia. A iniciativa faz parte das comemorações dos 30 anos do Jardim de Esculturas do MAM, a serem completados em 2023.

Nascido em São Carlos, interior de São Paulo, Filippi hoje vive e trabalha na capital paulista, e nos últimos seis anos tem se debruçado sobre questões da fronteira entre a floresta e o avanço da indústria. Cobra Grande é um trabalho que faz parte de uma série que ele vem desenvolvendo sobre dispositivos do desmate. “Minha pesquisa artística começou com relação à fricção entre matrizes de civilizações distintas a partir da invasão da América e com o tempo fui me interessando por esse lugar que fica no meio desse continente, e que é um lugar de disputa, que produz muita cobiça”, ele comenta.

Desde 2016, o artista trabalha em projetos de construção comunitária na região amazônica e no sudeste do Brasil. Essa proximidade do território fez com que sua pesquisa caminhasse para estudos sobre essa “fronteira do desmate”, como ele chama.

Em trabalhos anteriores desenvolvidos a partir desse mesmo lugar, Frederico trouxe reflexões sobre as ferramentas utilizadas no processo de desmatamento, como facões, correntes de motosserra e peças de maquinário. A obra no Jardim de Esculturas do MAM terá o formato de uma grande corrente, dispositivo utilizado como técnica de deflorestamento ostensivo nas matas. Cobra Grande será uma réplica em tamanho real
dessa corrente que se liga a dois tratores em suas extremidades, colocando a baixo a vegetação de maneira rápida e brusca.

A grande corrente, que irá ocupar um grande espaço do jardim criado por Burle Marx na frente do museu, será feita de adobe, material bastante utilizado na bioconstrução – uma técnica tradicional de construção com barro como, por exemplo, o pau-a-pique – e será acomodada em formato de arco entre árvores da área externa do museu.

Composto de barro e fibras vegetais, o adobe é um material de baixo impacto ambiental. Cada um dos 180 elos da corrente será moldado a partir dessa mistura. As peças, porém não passarão pelo habitual processo de queima, apenas secará à luz do Sol, ficando com um aspecto imagético muito similar ao ferro oxidado. Por não ser queimado, o material deve se desfazer em razão de fatores naturais e do dia a dia, como a chuva e os ventos.

O artista pontua que “a oposição de elementos naturais e industriais (cobra/corrente, barro/aço) constitui o conceito de ameaça e posteriormente deposição”. Segundo Frederico, existe, portanto, um contraste que também se revela na percepção do público sobre a obra, que a priori pode se mostrar feito de um material (ferro oxidado) e quando olhada com mais atenção se mostra outra coisa (adobe). “Esses descompassos sobre matérias também são bastante importante para o trabalho”, afirma o artista.

“O trabalho de Frederico Filippi, a partir do barro, matéria retirada da terra e que para ela voltará, nos permite refletir sobre as técnicas perversas de desmatamento atualmente praticadas. No momento crítico em que o planeta Terra se encontra, na perspectiva da crise ambiental, a obra contribui para a chamar atenção para uma questão urgente e que é fundamental para a manutenção da biodiversidade e da vida de um modo geral”, reflete Cauê Alves, curador-chefe do MAM São Paulo.