ARTISTAS DA GALERIA LEME PARTICIPAM DE EXPOSIÇÃO NO INSTITUTO MOREIRA SALLES SOBRE A VIDA DE CAROLINA MARIA DE JESUS

20/09/2021

Rebeca Carapiá, Flávio Cerqueira, Tiago Sant’Ana e Jaime Lauriano participam de exposição coletiva no Instituto Moreira Salles. A mostra “Carolina Maria de Jesus: Um Brasil para os brasileiros” é dedicada à trajetória e à produção literária da autora mineira que se tornou internacionalmente conhecida com a publicação de seu livro Quarto de despejo, em agosto de 1960.

A curadoria de Hélio Menezes e Raquel Barreto tem como objetivo apresentar a produção autoral da escritora, além de incluir obras de arte que se relacionam com as narrativas escritas por Carolina.

Confira os trabalhos dos artistas da Galeria Leme que farão parte da mostra:

FLÁVIO CERQUEIRA | Uma Palavra que Não Seja Esperar, 2018 | Bronze | 175 x 38 x 49 cm

“A imagem de uma jovem negra carregando uma pilha de livros em sua cabeça faz algumas referências, que considero importantes. As mulheres que carregavam lata de água na cabeça, afim de alimentar a sua família.

A ação de substituir a lata pelos livros é a de enfatizar que apenas por meio da cultura e educação podemos entender o passado e construir um futuro com mais possibilidades de mudança, pois por meio da educação nos tornamos mais questionadores, contestadores e conseguimos ocupar espaços não ocupados por gerações passadas.

As aulas de etiqueta, onde garotas de classe abastadas faziam a prática de carregar livros na cabeça para manter a postura. No trabalho, eu coloco um número maior para que essa figura se mantenha com a cabeça erguida sempre olhando para frente. O título indica que de todas as palavras e histórias escritas nos livros que ela carrega, a única palavra que ela não pode aceitar é a Palavra ESPERAR, por acreditar que é hora de mudança, hora de criar novas narrativas e trazer novos personagens para ocupar os lugares de destaque e servirem de referência e representatividade para futuras gerações” – Flávio Cerqueira

JAIME LAURIANO | Ordem e Progresso, 2015 | transformador, temporizador, termostato, fios e ferro (transformer, timer, thermostat, wires and iron) | 160 x 100 x 100 cm

Na série de trabalhos Bandeirantes, miniaturas que homenageiam os bandeirantes compradas em mercados de pulga, feiras de antiguidade e casa de leilões são refeitas a partir da fundição de latão e cartuchos de munições utilizadas pela Polícia Militar e Forças Armadas Brasileiras. Como base para escultura foi construído um cubo sólido através da aplicação da técnica de taipa de pilão.

A escolha por utilizar os cartuchos de munições utilizadas pela Polícia Militar e Forças Armadas Brasileiras se deu para evidenciar a centralidade da figura de verdadeiros genocidas, como os bandeirantes, na construção da identidade nacional e da noção de segurança e soberania nacional. Este fato fica claro nos diversos monumentos, praças e rodovias em homenagem aos bandeirantes. Porém, a faceta mais perversa dessas homenagens encontra-se nas que foram prestadas pelo braço armado do estado, como por exemplo: a OBAN (Operação Bandeirante), centro de informações, investigação e repressão da ditadura militar, que teve em Carlos Alberto Brilhante Ustra o seu nome mais conhecido; ou o Batalhão Bandeirante (binfa-14), grupamento de operações especiais da Força Aérea Brasileira (FAB); dentre outros.

REBECA CARAPIÁ | Palavras de ferro e ar – Escultura 9 (da série Como colocar ar nas palavras), 2020 | Ferro (Iron) | 221,5 x 121 cm

Na série “Como colocar ar nas palavras”, a artista cria através de instalações, desenhos e esculturas, uma cosmologia em torno dos conflitos das normas da linguagem e do corpo, além de ampliar um debate geopolítico que envolve memória, economias da precariedade, tecnologias e as relações de poder entre o discurso e a palavra.

TIAGO SANT’ANA | Sapatos de açúcar, 2019 | Açúcar e material sintético (sugar and synthetic material) | 25 x 10 x 13 cm (cada)

Os chamados “tamancos de forra” eram acessórios utilizados pelas negras que conseguiam conquistar sua alforria na Bahia colonial – muitas vezes por trabalharem em regime de “ganho”. Aqui, além dos próprios sapatos – símbolos precários de uma liberdade somente anunciada mas nunca conseguida em sua plenitude – as plataformas robustas era utilizadas para dar altura física aos corpos conferindo-lhes uma impressão de imponência e altivez.

Não à toa, esse tipo de calçado passa a habitar o imaginário urbano das mulheres negras vendedoras de quitutes, sendo um acessório recorrente das conhecidas (genericamente) como “baianas”. No caso específico desta peça, há uma aproximação das narrativas do imaginário popular que interligam a ideia dos sapatos como um símbolo da conquista pela liberdade de pessoas escravizadas ao mesmo tempo que os calçados são formados pelo próprio material que catalisa os processos de subjugação e abjeção racial no Brasil: o açúcar.

Mais informações acesse o site do Instituto Moreira Salles.