A Galeria Leme tem o prazer de apresentar a exposição Visiones Contemporáneas Venezolanas, da qual participam três artistas; Christian Vinck, Daniel Medina e Luis Arroyo. Estes artistas possuem, como ponto em comum, a releitura da história da arte venezuelana a partir do contemporâneo, pois recorrem a certas referências visuais, conceituais e ideológicas que remetem ao imaginário plástico da Venezuela.
Christian Vinck é um artista autodidata que, atualmente, se dedica inteiramente à pintura. O artista se caracteriza por ser um colecionador de imagens e criador de obras que retratam e reinterpretam documentos e temas inspirados por uma variedade infinita de estímulos visuais. As três séries de obras selecionadas para esta exposição evidenciam alguns destes impúlsos.
Na série Armitano, baseda em um grupo de livros de Ernesto Armitano (importante editor de cultura italiano), Vinck retrata, de maneira quase monocromática, as capas destes livros, desenvolvendo uma iconografia peculiar a partir da memória literária. Da mesma forma, a partir do artigo Brinquedos Russos (Juguetes Russos), publicado por Walter Benjamin, que teoriza sobre a arte popular russa e a visão de mundo infantil como configurações coletivas, o artista pinta fragmentos do ensaio e das imagens que o compõem, refletindo sobre a contemplação e o brinquedo como objeto artesanal. Já a obra Laminario Portátil de Mapas Tropicales, Vinck traz uma seleção de pinturas sobre mapas de costas do Pacífico e do Caribe que, retratados de modo caricatural, constituem uma espécie de carta geográfica infantil.
Daniel Medina traz para exposição uma proposta intitulada de Solución Habitacional. Trata-se de uma obra composta por uma série de módulos, que em sua totalidade formam estruturas de apartamentos semelhantes aos utilizados nas soluções habitacionais de Le Corbusier. O artista constrói estes módulos com base na alteração da fachada frontal do modelo armável do Museu do Louvre, desarticulando os sistemas de representação e difusão de modelos sócio-culturais europeus herdados pela América Latina, mais especificamente na década de 1950.
Luis Arroyo tem desenvolvido sua prática artística em torno de conceitos tais quais a anterioridade ou exterioridade de elementos como o sonoro, a história, o documento e o arquivo, as ideologias, a pintura, a doença, a guerra, entre outros. Estes interesses são entendidos como pontos de partida para a criação de obras que são em essência resíduos ou vestígios daquilo que não pode ser feito ou falado.
Espectros é um conjunto de doze capas de livros – vazias e aumentadas – que remetem ao caráter espectral de sistemas ideológicos fundamentais no desenvolvimento histórico do século XX.
No corpo de trabalhos Micrografias e Restauracíon del Aura, da série Libros Exhumados, Arroyo cria, sobre um conjunto de variações e composições que partem dos sígnos gráficos usados por Walter Benjamin em seus manuscritos, ao mesmo que aludem à pintura abstrata e geométrica latinoamericanas.
Arroyo, através da reestruturação de diferentes tipos de arquivo, se aproxima da arte latinoamericana, ao que Vinck reconfigura, a partir da pintura, documentos históricos e artísticos, e Medina desarticula os sistemas de representação arquitetônicos. Desta forma, os criadores geram pontos de encontro que remetem ao contexto sócio-político e cultural tanto da venezuela como do resto do continente.