A paisagem, muitas vezes confundida com a natureza, estabelece contato íntimo com a exterioridade dos sujeitos em singularidades com o mundo. Sua presença em produções artísticas consiste em uma percepção visual para além de mero recurso imagético e apresentação temática, mas antes de tudo refere-se à produção de sensibilidade na relação com a realidade.
Essa relação está nas obras de Gabriel Giucci que apresenta, em sua exposição individual Palmeira Arcaica, um conjunto de telas que anunciam um lugar primitivo da paisagem. As produções, através de pinceladas expressivas, evocam a natureza para uma reinterpretação poética frente às andanças do artista pelo litoral baiano.
Se antes foi possível acompanhar emblemas de um país diverso e desigual através de imagens da fauna, monumentos e retratos de políticos brasileiros nas telas de Gabriel Giucci, agora temos uma poética de reencontro com o Brasil frente às suas origens, em sua essência primordial com o natural.
As pinturas do artista atraem o olhar e despertam os sentidos ao ofertar a possibilidade de revisitar um passado natural e limpo, em que memória, solidão e nostalgia invadem o pensamento para o entendimento de que o passado e o presente podem confundir-se. Assim, temos nas paisagens da exposição Palmeira Arcaica uma percepção do presente estabelecida pela memória do passado que, juntos, nos entregam uma lembrança de como os sujeitos desta terra se relacionavam com a natureza retratada.
As pinturas entregam um passado visual que se infiltrou pelas frestas do presente para ser reinterpretado contemporaneamente. As caminhadas em meio aos ventos, mares, plantas e terras do litoral baiano proporcionaram ao artista a possibilidade de lidar com o retorno ao contato com a natureza atualizando poeticamente o agora.
São essas andanças que ampliam as pinturas e com isso aguça-se a sensibilidade nos permitindo ver o entardecer e a alvorada em campos de cor, estes que criam espaços cromáticos da ordem do imprescindível para expandir a paisagem.
Assim, visualizamos em potência, textura, matéria e espírito: a natureza. Esta que também se move com velocidade e suavidade em “Palmeira Arcaica”, ao dizer de tempos remotos em dimensões poéticas construídas a partir das memórias do território brasileiro, de modo a reelaborar vivências.
Camila Carmo
Mestra e doutoranda em Literatura e Cultura pelo Programa de Pós Graduação em Literatura e Cultura (PPGLITCULT) da Universidade Federal da Bahia (UFBA)