A Galeria Leme/AD tem o prazer de anunciar a primeira exposição em parceria com a soteropolitana Paulo Darzé Galeria: “Nádia Taquary e Ayrson Heráclito”. A mostra apresenta um conjunto de trabalhos que se referem às poéticas afro-brasileiras, trazendo vínculos próximos às religiosidades, insurgências e disputas negras no Brasil.
A obra de Nádia Taquary traz indagações relacionadas aos saberes e fazeres das tradições de joalharias crioulas. Em seus trabalhos, emprega o uso da madeira – seja de demolição ou de origem certificada – além de ouro, prata, contas, búzios, palhas e outros objetos representativos da história da população negra no Brasil, como os “Balangandãs”, eixo conceitual fundamental de sua pesquisa. Esses objetos, que com o tempo foram esvaziados de seus significados, representavam a liberdade para muitas mulheres negras escravizadas, e hoje são revisitados e potencializados pela artista, compondo um conjunto afirmativo escultórico para a continuação das lutas raciais contemporâneas.
Assim como Taquary, Heráclito desenvolve uma investigação que tensiona as relações entre Bahia e África. Para tanto, o artista emprega materiais orgânicos – como o dendê, o açúcar e o charque – emblematizando signos culturais relacionados ao passado colonial e ao escravismo. Na série “Sacudimentos” (2015), Heráclito exorciza, através de rituais de cura, dois importantes monumentos arquitetônicos associados ao tráfico de escravos. A mostra também apresenta a instalação “Segredos Internos” (1995/2010), onde o artista utiliza um barco partido ao meio para fazer uma crítica ao sistema econômico e social da época colonial, com suas estruturas desequilibradas e estratificação social. Já na série “Desenhos da Liberdade” (2019), Heráclito executa intervenções em nanquim sobre cartas de alforria.
Através da ação artística, Taquary e Heráclito implementam um percurso poético-político que assume o feito de narrar processos históricos e sociais a partir de um ponto de vista não-eurocêntrico. Imagens, ações e discursos são produzidos com o objetivo de compor uma crítica anti-colonial e que combate as políticas de apagamento e da suposta democracia racial.
Sobre os artistas:
Nádia Taquary. Salvador, Bahia, Brasil, 1967. Vive e trabalha em Salvador, Brasil.
Graduação em Letras pela UCSal (Universidade Católica de Salvador-BA), pós-graduação em Estética, Semiótica e Cultura pela EBA-UFBA (Escola de Belas Artes da Universidade Federal da Bahia). Exposições: Vértice, Museu de Arte Moderna da Bahia (2019, Salvador, Bahia); “Histórias Afro-atlânticas”, MASP (2018, São Paulo, Brasil); “Mulheres no MAR”, MAR (2018, Rio de Janeiro, Brasil); “Axé Bahia: The Power of Art in an Afro-Brazilian Metropolis”, Foweler Museum (2017, Los Angeles, EUA); “Tempo e Linguagens”, Paulo Darzé Galeria de Arte (2015, Salvador, Bahia, Brasil); III Bienal da Bahia (2014). Em 2011, realizou sua primeira individual “A Bahia Tem…”, no Museu Carlos Costa Pinto (Salvador-BA).
Ayrson Heráclito. Macaúbas, Bahia, Brasil, 1968. Vive e trabalha entre Cachoeira e Salvador, Bahia, Brasil.
Pesquisador, curador e professor, possui Doutorado em Comunicação e Semiótica pela PUC/SP. Exposições: “À Nordeste”, Sesc 24 de Maio (2019, São Paulo, Brasil); “Arte-democracia-utopia: quem não luta tá morto”, MAR (2018, Rio de Janeiro, Brasil); 57a Bienal de Veneza (2017, Itália); 2a Changjiang International Photography and Video Biennial (2017, Changjiang, China); X Bienal do Mercosul (2015, Brasil); Histórias Mestiças (2014, Tomie Ohtake, São Paulo, Brasil); 7th Berlin International Directors Lounge (2011, Berlim, Alemanha); Trienal de Luanda (2010, Angola), MIP2 Manifestação Internacional da Performance (2009, Belo Horizonte, Minas Gerais, Brasil), dentre outros.