Em sua quarta exposição individual na Galeria Leme, Richard Galpin apresenta um novo corpo de trabalhos, que consiste em fotografias comuns lixadas com uma lixadeira elétrica – o mesmo tipo de ferramenta utilizado em mecânicas automotivas.
Estes trabalhos mostram campos soltos e difusos de cor – uma estética surpreendentemente nova para o artista, cujo trabalho até então tem sido caracterizado por uma precisão linear e geométrica. Enquanto a linguagem é reminiscente do Expressionismo Abstrato Americano e da Color Field painting, os trabalhos de Galpin seguem uma metodologia similar à de seu trabalho anterior. A partir de impressões das suas próprias fotografias de médio formato da cidade, o artista isola blocos de cor com a ponta da lixadeira elétrica, apagando seletivamente qualquer detalhe legível que poderia dar alguma indicação de lugar ou escala. A ação orbital da ferramenta espalha as tintas no papel e mistura novas cores a partir da poeira da impressão. A cor é uma preocupação chave, como explica o artista:
“Nos últimos 12 anos trabalhando com fotografias de cidades, construí um forte senso de paleta de cor dos lugares que conheço bem. Em viagens anteriores a São Paulo, memorizei tons de creme queimados pelo Sol, ocres, amarelos pálidos e marrons escuros avermelhados. Na minha visita mais recente a São Paulo fui surpreendido ao ver uma proliferação de cores intensas e vibrantes nas muitas faces visíveis da cidade – verdes ácidos, rosas revigorados, azuis saturados…
Quando questionei à respeito disso, alguém sugeriu que era devido a um acordo entre a prefeitura e uma grande marca de tintas, para oferecer tinta gratuitamente para a renovação de prédios – com a condição de que a tinta oferecida fosse das cores mais vibrantes. Na época eu vi isso como valor nominal (era uma reminiscência da Lei Cidade Limpa – aprovada em 2006 para banir toda propaganda externa – uma norma que teve a consequência não planejada de deixar molduras esqueléticas de metal assombrando o horizonte). Entretanto, pesquisas subsequentes foram incapazes de descobrir qualquer planejamento de estratégia oficial relacionado à cor – parece não ter passado de um mal entendido ou falso rumor. Estariam os residentes e comerciantes de bairros de São Paulo como Vila Madalena e Jardins espontânea e simultaneamente desenvolvendo uma nova paleta de cor de forte impacto? Isto se relaciona de forma mais ampla com o humor ou com a ambição da cidade?
Continuo instigado pela idéia de uma agência municipal de cor. Imagino um departamento do governo municipal com a tarefa de selecionar a paleta de cor, com consideração cuidadosa por gama de cor, para representar as aspirações apropriadas para São Paulo…”
A agência municipal de cor ficcional que o artista imagina tem base em exemplos reais do uso da cor para construir um ambiente, como o trabalho de Haas e Hahn com os jovens locais na Favela Santa Marta no Rio de Janeiro, ou no período que Edi Rama foi prefeito de Tirana, na Albania, de 2000 a 2011, quando o ousado uso da cor em prédios foi parte de uma transformação mais ampla na cidade. Também se baseia no interesse do artista por tabelas de cores comerciais e suas histórias acopladas de gosto e aspirações. Estas tabelas de cor mudam de acordo com a época, e tem a intenção paradoxal de responder e liderar a criação do gosto, da moda e da identidade – veja por exemplo a ‘cor do ano’ lançada pela compania Pantone, reinvindicando tanto canalizar o zeitgeist, como ser a lider mundial no desenvolvimento da moda e do gosto.
No ambiente urbano a renovação da pintura e a evolução da cor são parte de um processo de mudança urbana mais ampla, e é com a renovação que Richard Galpin se preocupa em seus trabalhos.
Também na exposição estará um corpo de trabalhos menores com o título “Dissolution” (Dissolução), feitas com a mesma ferramenta, mas com uma técnica de lixar por todos os lados, que torna a imagem mais difusa, com menos blocos de cor ficando no papel. Estes delicados trabalhos, que se relacionam mais com o desenho ou com impressões, contém traços mais finos e obscuros da imagem anterior, assim como furos no papel e nas impressões onde a face subjacente da mesa ou parede do estúdio do artista ficam gravadas na imagem.
Sobre o artista:
Richard Galpin (Cambridgeshire, Inglaterra, 1975). Mora e trabalha em Londres, Inglaterra.
Entre suas exposições se destacam as individuais: “Let us build a city and a tower”, Hales Galley, Londres, Inglaterra (2011); “DIVISION” Galeria Leme, São Paulo, Brasil (2010); “Viewing Station”, High Line, Nova Iorque, EUA (2010). E as coletivas: “Intersection: Photography / Painting / Document”, Marlborough Gallery, Nova Iorque, EUA (2011); “Moving maps”, Rolex Learning Centre, EPLF, Lausanne, Suíça (2011); “Photography gallery collection, Victoria and Albert Museum, Londres, Inglaterra (2010) and “Uncertain Terrain, Knoxville Museum of Art, Tennessee, EUA (2010). Suas obras fazem parte de coleções como: The British Museum, Victoria and Albert Museum e Deutsche Bank.