A Galeria Leme tem o prazer de apresentar a primeira individual da artista carioca Mariana Maurício no Brasil. A artista trabalha com a re-significação de memorias imagéticas através da interferência sobre fotografias coletadas.
Mariana se utiliza de fotografias encontradas de formas diversas, desde seu acervo pessoal a álbuns antigos, sem manter o foco na coleta, e sim nas possibilidades de interação afetiva que estas lhe apresentam e de que forma lhe provocam este anseio de agir sobre uma memória que nem mesmo lhe pertence.
Em seus primeiros trabalhos, a artista presava ainda as fotos originais, sendo o trabalho final a impressão ampliada da mesma após a intervenção. O processo de interferência, digitalização, e impressão era repetido diversas vezes, como se a obra fosse feita de camadas, até que a imagem fosse completamente usurpada de sua
função primária, tornando-se impenetrável ao ter o seu sentido original irremediavelmente perdido.
Nesta exposição, Mariana dá um tom distinto ao seu processo de ressignificação, uma vez que as obras possuem a fotografia original sobre qual a artista interfere. Não por se tratarem de um objeto nostálgico ou possuírem algum tipo de aura, mas porque são esvaziadas de sua função de registro e memória afetiva e igualadas à sua cópia digital e impressão sobre outro suporte.
A artista faz uso do registro de famílias alheias e desconhecidas e utiliza estas fotografias tão somente como um suporte para seu trabalho, como um pintor a tela, um arquiteto o papel. A preocupação destas pessoas em registrar e legitimar cada momento é destruída por Mariana ao ponto de serem completamente desfiguradas e re-preenchidas com sua própria afetividade. Maurício criou em seu ateliê um espaço caótico de memórias roubadas, que passam a pertencê-la por suas marcas, marcas de seu território.
O trabalho “Nosso Filho” mostra o quanto a artista esvazia a função do objeto sobre o qual interfere, posto que um álbum de fotografia, que fora outrora folheado por mães, pais, tios e avós, agora faz parte de um bloco de concreto, não pode ser manuseado e suas imagens não podem ser vistas. É um objeto de aura encarcerada.
Este conjunto de obras transcende a encenação do registro imagético e rompe qualquer camada afetiva que este registro possa possuir.
Sobre a artista:
Mariana Mauricio nasceu em 1983 no Rio de Janeiro. Vive e trabalha em Londres. Recebeu seu diploma em Belas Artes pela Saint Martins College of Art and Design em 2007. Seu trabalho já foi exposto em uma coletiva na Saatchi Gallery e integra a coleção londrina Frank-Suss. Em março desse ano realizou sua primeira exposição individual, no Project Room da galeria Mummery + Schnelle, também em Londres.