Mariana Mauricio

08/08/2017 - 09/09/2017

A Galeria Leme apresenta a terceira exposição individual de Mariana Mauricio em São Paulo, onde a artista expõe um conjunto de obras inéditas através das quais aprofunda a sua exploração sobre a carga simbólica de simples objetos do cotidiano, as rotinas que lhes são inerentes e a construção subjetiva de noções de intimidade, domesticidade e feminilidade que surgem a partir das interrelações entre sujeito e tais itens.

 As obras apresentadas se estruturam a partir da assemblage de objetos que a artista encontra e coleta das ruas, com itens que ela própria cria e retrabalha. Se a qualidade plástica dos objetos abandonados e apropriados por Mauricio resultam de forças exteriores e anteriores às da artista, os objetos e materiais novos que ela inclui em suas composições são trabalhados de modo a adquirirem uma qualidade tátil e corporal que recria o efeito físico do passar do tempo e de memórias que nunca de fato existiram. Através de ponderadas combinações e justaposições, Mauricio cria composições que amplificam as “vibrações” de cada uma das partes, intensificando os limites formais de cada elemento e consequentemente retrabalhando a subjetividade dos mesmos, de modo a possibilitar a emergência de outras narrativas que lhes são inerentes mas que permanecem adormecidas sob a banalidade do “uso”.

Este tipo de processo é evidente no trabalho que Mariana Mauricio elabora a partir de um dos elementos estruturantes da exposição, uma tábua de passar roupas que resgatou de um beco em Londres. A artista descontruiu as suas camadas de tecido e espuma, descobrindo as manchas e evidências que narravam a sua historia doméstica. Ao dissecar este elemento se deparou com dois tipos distintos de impressões digitais. Por um lado, as manchas da fricção do ferro quente sobre o tecido, e por outro, as malhas ortogonais dadas pelos vincos da dobragem do pano que desenhavam um grid cartesiano sobre a matéria mole. A artista explora o confronto entre o caráter abstrato e ordenador desse grid e as formas orgânicas e viscerais acidentalmente impressas nesses materiais. Assim, o grid, como trama ortogonal ordenadora do nosso tempo-espaço é replicado manualmente por Mariana a partir do processo de dobrar e passar tecidos, criando um “loop” que conecta as marcas impressas involuntariamente ao longo da “vida útil” desses materiais encontrados e a “ação artística” que as replica, ecoando a operação rotineira que as originou num momento anterior.

Ao enfatizar relações contraditórias através de composições de tensão imanente, a artista re-significa o léxico doméstico tornando-o uma porta de entrada para outros subtextos importantes, tais como o da historia do feminismo, da opressão familiar, do espaço dúbio da sexualidade, entre outros, tornando-os tangíveis através da experiência completa da exposição.

 

Sobre a artista:

Mariana Mauricio. (Rio de Janeiro, Brasil, 1983. Vive e trabalha em Londres, Inglaterra.)

Recebeu seu diploma em Belas Artes pela Saint Martins College of Art and Design em 2008 e atualmente cursa um mestrado de artes na Goldsmiths University, Londres.

Participou de exposições individuais tais como: O fundo do poço, Die Raum, Berlim, Alemanha (2017); Lamb Arts, Londres, Inglaterra (2016), Galeria Leme, São Paulo, Brasil (2014 e 2012), entre outras. E de exposições coletivas tais como: The House of Penelope, Gallery 46, Londres, Inglaterra (2017); Outras Coisas Visíveis sobre Papel, Galeria Leme, São Paulo, Brasil; Breaking Surfaces, Jette-Rudolph Gallery, Berlim, Alemanha (2012); Wit, Fear and Sarcasm, FAS Contemporary Art, Londres, Inglaterra; Versions and Diversions, Temple Bar Gallery, Dublin, Irlanda (2011); Frank-Suss Collection, Phillips de Pury at the Saatchi Gallery, Londres, Inglaterra (2010), entre outras.