A Galeria Leme apresenta a segunda exposição individual da artista carioca Mariana Maurício no Brasil. A artista trabalha, principalmente, com a re-significação de memórias imagéticas através da interferência sobre fotografias coletadas.
“Durante o processo estou sempre lendo, procurando fazer conexões teóricas, e buscando similaridades. Fiz estes trabalhos pensando no doméstico, no espaço, na culpa e nos pesos que carregamos. Mas só descobri isso depois que os trabalhos estavam prontos. Primeiro eles se materializam, depois eu encontro significados.
Há cerca de um ano, além de fotografias, comecei a colecionar objetos que encontro no meu dia a dia, principalmente achados pelos caminhos que percorro. As vezes ando 7, 8 horas, dias inteiros, buscando não sei o que – até encontrar. Não há uma ordem, nem nenhuma regra tangível.
É como se a ideia das fotografias passasse a ter uma tridimensionalidade expressada por estes objetos. Da mesma maneira que roubava e mudava a memória das fotografias, também me pergunto quem usou certo objeto, quem leu aquele livro ou revistas, em fim, a função e memória do objeto em si. Os objetos injetam valores, significado e as vezes narrativas para as fotos.
O atelier hoje em dia mais parece a casa de um acumulador. E é!
O processo de encontrar coisas e fotos lá dentro é a segunda etapa pós rua (A terceira etapa seria começar a fazer os conjuntos/ assemblagens). O atelier é composto de 5 mesas. Os objetos e fotos vão passando de uma para a outra conforme os conjuntos vão sendo formados, num processo de simplificação. Tem a mesa dos excluídos, a mesa dos escolhidos, a mesa dos que já estão em conjuntos. Existe até a mesa dos testes que deram errado mas que potencialmente podem virar outra coisa. Os arranjos não são nem um pouco aleatórios para mim. Penso em elementos composicionais como linha, cor e textura – como linguagem. Me interessam também o formalismo, o expressionismo abstrato, e o movimento concretista e neo-concretista.
Na obra “Depths of a second”, uso um lençol de linho de casal, com mais de 100 anos de idade, encontrado em uma loja de tecidos antigos, ele tem uma costura no meio e uma letra monografada em cada lado, além de furos, manchas e memórias – nele foi impresso a imagem de duas mãos, uma apertando a outra. A imagem foi encontrada em um jornal de 1954. Esta obra é um exemplo de colagem, uma assemblagem, uma exploração das memorias dos dois objetos, criando uma narrativa nova.
Na obra “Wash up” – composta de duas fotografias – uma de um homem e uma de uma mulher. A “cena” é um drama doméstico. Nas fotos, emolduradas separadas, o homem e a mulher “estatuas clássicas” estão com os rostos virados um para o outro, a mulher, “quebrada” olha o homem, o homem não olha a mulher – e sim esconde os olhos com uma espátula amarela suja de cimento (material do qual ele (estatua) foi feito). A mulher encontra suporte na torre de pratos de porcelana. ”
Mariana Maurício irá apresentar apenas obras inéditas, compostas por instalaçõess fotográficas e assemblages.
Sobre a artista:
Mariana Mauricio nasceu em 1983 no Rio de Janeiro. Vive e trabalha em Londres. Recebeu seu diploma em Belas Artes pela Saint Martins College of Art and Design em 2007. Seu trabalho já participou de exposições coletivas na Saatchi Gallery, em Londres e integra coleções no Brasil, Europa e Canada.