Construído para receber artistas nacionais ou estrangeiros em sistema de residência, o galpão anexo à Galeria Leme é agora utilizado como espaço expositivo com a abertura da coletiva Don’t Box Me In.
Dos quatro participantes, três – Fernanda Chieco, Delphine Balley e Patrick Jolley – conheceram-se em 2007 durante uma residência no IMMA (Irish Museum of Modern Art) em Dublin e com a conivência, descobrem profundas afinidades artísticas. Com a exposição já em mente, convidam mais um artista – Eoin McHugh.
Seus trabalhos perturbam e, ao mesmo tempo, encantam. Muitas vezes, enganam à primeira vista e deve-se dedicar algum tempo à observação mais cuidadosa. Tem um lado sutil e etéreo e outro agressivo e degenerado. São dúbios e limítrofes. Discutem o corpo e o espírito. Trazem à tona fantasmas internos – íntimos e coletivos -, libertando-os de maneira lúdica.
Delphine Balley (Romans, 1974. Vive e trabalha em Lyon). Delphine gosta de histórias e faz séries de fotografias onde narra casos reais ou anedotas alterados por altas doses de fantasia e surrealismo. As fotografias apresentadas em Don’t Box Me In fazem parte da série 11, Henrietta Street, de 2007, realizada durante sua residência no IMMA. A história das mulheres da família Platt é contada através de imagens silenciosas, porém fortes. O uso da luz obedece à regras clássicas e as cores e composições revelam harmonia e remetem à pinturas acadêmicas. Todas elas, no entanto, de uma maneira ou de outra, transgridem, fazendo jus à preferência da artista por um huis clos misterioso.
Eoin McHugh (Dublin, 1977. Vive e trabalha em Dublin). Eoin McHugh apresenta um papel de parede e duas pinturas sobre papel. Com sua paleta de cores pálidas, o artista constrói narrativas não-lineares, onde séculos se encontram através de padrões e símbolos retirados do imaginário. Realismo e fantasia, conhecido e desconhecido, aceitação e estranhamento se confundem. McHugh adota a idiossincrasia e cria um universo onírico e subversivo.
Fernanda Chieco (São Paulo, 1976. Vive e trabalha em Dublin e São Paulo). A artista paulistana participa da exposição com três desenhos da série Angelvs Domini, de 2007, também realizados durante sua residência em Dublin. Em todos eles, grupos de 12 pessoas, homens e mulheres, representados por uma tênue e contínua linha feita à lápis, interagem de maneira inusitada em torno de um animal silvestre. Estas pessoas pertencem a um mundo ambivalente, onde o ordinário e o espiritual, o sensual e o etéreo, o moderno e o clássico convivem, provocando uma sensação de incômodo e leveza.
Patrick Jolley (Dublin, 1964. Vive e trabalha em Dublin). A intenção de Jolley é fazer um trabalho documentário. Seus filmes, entretanto, descrevem o que está presente, mas que não necessariamente é visível ou tangível. São um provocante retrato de nossos medos, neuroses, tabus e impulsos contidos. Nesta mostra , o artista apresenta Sog, de 2007, video onde uma construção desenvolve uma reação alérgica a seus habitantes. Enquanto tudo apodrece e cai, as pessoas continuam a levar suas vidas banais, mesmo em meio a um ambiente transtornado.