Em sua primeira individual no Project Room da Galeria Leme , Henrique de França apresenta uma série de desenhos construídos a partir de imagens retiradas (e muitas vezes recriadas) de fotografias antigas que registram momentos banais ou decisivos de uma pessoa, de um grupo, de uma sociedade, de uma geração. Mais do que a transferência das imagens para o papel, as obras são composições de fragmentos diversos, dando-lhes novas conotações, por vezes inusitadamente relacionadas.
O título refere-se à narrativa proposta pelos desenhos, capaz de se desenrolar em uma história aos olhos do observador sem, no entanto, precisar de um ponto de partida e chegada específico, abrindo caminho à liberdade de associações ao longo dos elementos descritos, ligando o trajeto a partir de expectativas e experiências pessoais.
Algumas sessões da mostra consistem em pequenos agrupamentos de desenhos ligados por uma linha horizontal comum a todos eles, como uma sequência de fatos sendo conduzidos através de uma linha do tempo. O formato horizontal, da maior parte das obras, reforça a ideia de continuidade.
Com uma proposta situada nas questões da linguagem do desenho contemporâneo quanto às possibilidades de composição, linha, valores formais e espaços em branco, é recorrente a preponderância de vazios e elementos figurativos inacabados, como se um ponto ou outro de uma lembrança pudesse ser melhor identificado pela memória em detrimento de outro, evidenciando espaços que ela preenche ou não. Anulações e apagamentos representam, talvez, a necessidade de se reescrever, “redesenhar” um passado, tentando mudar um percurso que pudesse redefinir o presente.
A razão de se trazer antigas imagens para o cerne das obras está na abordagem da formação da sociedade contemporânea através do seu desenvolvimento nas tradições religiosas, nas relações de subserviência, no distanciamento e, principalmente, nas histórias que se extinguem mas deixam seus traços.
Henrique de França (São Paulo, 1982), vive e trabalha em São Paulo, Brasil.
Em 2010 participou dos salões: XIII Salão Municipal de Artes Plásticas (SAMAP) de João Pessoa, PB, X Bienal do Recôncavo, BA e o 38o. Salão de Sto. André. Em 2009 Integrou a coletiva Desenho Ocupado no Project Room da Galeria Leme.