Em sua segunda exposição individual na Galeria Leme, a artista Marcia de Moraes apresenta uma série de seis desenhos dípticos e polípticos de grandes dimensões. As obras são formadas por papéis divididos que, quando unidos, revelam formas minuciosamente desenhadas à grafite e preenchidas com lápis de cor. Um dos pontos de partida para a criação desta série foi fazer com que dois desenhos diferentes se tornem um único corpo, e passem então a coexistir, seja de forma harmoniosa ou caótica.
Os traços e as cores atravessam os limites dos papéis, por vezes encontrando continuação óbvia no próximo pedaço e, por outras, encontrando um elemento díspar. Dentro desta perspectiva de complementaridade e oposição, Marcia pontua outras relações que explora em seus desenhos, como causa e efeito, atração e repulsa, realidade e projeção, presença e ausência, introspecção e exposição, movimento e fixação, proximidade e distância, feminino e masculino.
As formas e as cores aparecem de forma intensa nesta série de desenhos. Nas obras “O Obsessivo” e “O Compulsivo”, há um movimento circular que se inicia quase no meio dos desenhos e se irradia para as extremidades dos papéis, estabelecendo um percurso quase labiríntico e vertiginoso. Em “Euforia”, as formas orgânicas e sinuosas tomam os papéis como veias que crescem e pulsam fortemente para os quatro lados. Já em “O Alagamento”, inúmeros pedaços do papel deixados em branco atuam como gotas, babas, linhas e outros elementos, dando uma grande impressão de profundidade.
Marcia de Moraes insiste na linguagem do desenho. Acredita que o traçado do lápis traz delicadeza e, ao mesmo tempo, força. O desenho demanda um longo tempo para ser feito, e a lentidão faz parte do processo de criação da artista. Seu trabalho parece almejar um utópico limite do desenho. Com variadas combinações cromáticas, dimensões que parecem aumentar a cada novo trabalho e, atualmente, a predileção por dípticos e polípticos, os trabalhos de Marcia passam a se tornar experimentações raras vezes impostas ao desenho. Todas as suas obras sugerem uma pergunta que parece ser seu norte: qual é, de fato, o limite de um desenho?.
Sobre a artista:
Marcia de Moraes (São Carlos, 1981). Vive e trabalha em São Paulo, é bacharel e mestre em Artes Plásticas pela Unicamp.
Participou de diversas exposições no Brasil e no exterior, dentre as quais se destacam as individuais Um Corpo que Cai, MAG – Museu de Arte de Goiânia, Goiânia, Brasil (2012); À Deriva no Azul, Carpe Diem Arte e Pesquisa, Lisboa, Portugal (2011); Personne, Galeria Leme, São Paulo, Brasil (2010); Marcia de Moraes, Centro Universitário Maria Antonia, São Paulo, Brasil (2009) e as coletivas Saint Clair Cemin & Marcia de Moraes: Correspondance Bresiliénne, VL Contemporary, Paris, França (2011); Boîte Invaliden Ateliê Fidalga, Galerie Invaliden1, Berlim, Alemanha (2011); Nous vivons, déplaçons ensemble, Jiyoun Lee, Marcia de Moraes, Hugo Ansel, La Cour Dieu, La Roche-en-Brenil, França (2011); A Contemplação do Mundo, 5a Paralela, Liceu de Artes e Ofícios, São Paulo, Brasil (2010); Ateliê Fidalga no Paço das Artes, São Paulo (2010); 7° Programa de Exposições – MARP, Museu de Arte de Ribeirão Preto, Brasil (2009). Em 2011 foi contemplada com o Prêmio FUNARTE de Arte Contemporânea, São Paulo.