A Galeria Leme apresenta “Chão”, a segunda exposição individual de Alexandre Brandão na galeria, onde o artista apresenta uma nova série de trabalhos, dando continuidade à sua exploração e fascínio pela fenomenologia das matérias primas e a sua transmutação quase alquímica.
Se, em obras anteriores, Alexandre Brandão estudava a natureza impalpável da luz e as capacidades plásticas de materiais como açúcar, pedra, tinta e carvão, em “Chão” ele aprofunda a sua relação direta com as matérias primas que advêm, literal ou conceitualmente, da terra.
Através de uma aproximação empírica e do uso de processos de tentativa e erro, o artista foi progressivamente alcançando um domínio técnico sobre estes materiais. Flertando com ferramentas e métodos de produção artesanal (sensíveis à transformação da matéria, seus tempos de secagem e suas mudanças na consistência e coloração) Alexandre Brandão desenvolve uma prática que muitas vezes se aproxima de uma proto-ciência, combinando utopia, processos físicos e químicos com um forte empirismo e intuição.
A recusa do racionalismo metódico dos processos científicos tem uma reverberação visível nas formas predominantes na exposição, na qual predominam formas arredondadas e sinuosas, com imperfeições que advém das próprias mãos do artista. Traços humanos impressos através de técnicas e práticas que se conectam a uma memória que se refugiou em gestos e hábitos, em aptidões transmitidas por tradições não-ditas e no auto-conhecimento inerente ao corpo.
Mas o artista não se detém na transformação da matéria prima em objetos escultóricos. O exercício elaborado por Alexandre Brandão questiona a própria natureza da matéria, decompondo-a para depois dar-lhe uma nova identidade, uma segunda-natureza. O seu ponto de partida é o que muitos consideram o objeto final. Ao invés de começar pela argila e misturá-la com água, o artista parte do tijolo, para depois destruí-lo e em seguida reordenar os seus restos dando-lhes uma nova identidade. Parte também do vidro, apenas para lhe retirar a sua característica fundamental, a transparência, reconfigurando-o com uma pele opaca feita de massa de vidraceiro, onde ficam impressos os traços de seus dedos.
Alexandre replica, à escala de suas mãos, um processo cíclico que se inicia numa ordem racional, para uma desordem provisória, que culmina numa reordenação e reconfiguração da matéria.
Durante este processo de cíclica redundância, gasto de energia e trabalho manual, o artesão/homo-faber subitamente se transforma em artista/homo-ludens, criando artefatos mestiços, que falam simultaneamente de sua própria construção e desaparecimento.
Estes objetos e dispositivos, por mais que partilhem conosco o mesmo universo físico, carregam em si uma forte volatilidade, uma aparência instável de um croqui. São elementos que não se encerram somente em suas formas, mas apontam para algo além deles. Objetos num “estado vago”, que navegam entre uma funcionalidade perdida e uma re-funcionalização que momentaneamente escapa à nossa compreensão.
O seu entendimento requer a suspensão das nossas crenças e teorias, numa atitude que contraria o conhecimento pré-formatado das coisas do mundo. Pensar não é somente apreender a realidade através da razão, mas também refletir sobre o universo sensível que se apresenta aos nossos sentidos. É, neste sentido, retornar ao Chão, à origem. Voltar a um plano de conhecimento horizontal e atemporal que nos une sem diferenças e sem exclusões.
Sobre o artista:
Alexandre Brandão, Belo Horizonte, Brasil, 1979. Vive e trabalha em São Paulo, Brasil.
Formado em comunicação social pela Universidade Federal de Minas Gerais e artes visuais pela Escola Guignard/UEMG, tem participado de festivais e exposições no Brasil e no exterior.
Exposições individuais: Alexandre Brandão – II Mostra – Programa de Exposicões 2014, CCSP – Centro Cultural São Paulo, Brasil, 2014; Efeito sem Causa, Centro Cultural Oswald de Andrade, São Paulo, Brasil, 2013; Alexandre Brandão, Galeria Leme, São Paulo, Brasil, 2013; Quase Sombra, Pivô, São Paulo, Brasil, 2012, entre outras.
Exposições coletivas: 18º Festival Internacional de Arte Contemporânea SESC Videobrasil, São Paulo, Brasil, 2013; Red Bull House of Art – Residências Sampaio Moreira 2010/2011, Red Bull Station, São Paulo, Brasil, 2013; PIESP – Exposição, São Paulo, Brasil, 2012; Aparatos Ópticos, a exposição-projeção, Paço das Artes, São Paulo, Brasil, 2012; 17º Festival Internacional de Arte Contemporânea SESC Videobrasil, São Paulo, Brasil, 2011; 5ª Bienal Interamericana de Videoarte, Washington D.C., EUA, 2010, entre outras.
Em 2010 foi premiado na 5ª Bienal Interamericana de Videoarte (Washington DC, EUA) e em 2014 ganhou o prêmio Bolsa de Residência Artística ICCo / SP-Arte na instituição Residency Unlimited, em Nova York.
Seu trabalho integra a coleção Fiorucci Art Trust, Londres, Inglaterra, entre outras.