Tecidos (2017)
Em uma simpática casa de numero 51, localizada na rua Sorocaba no bairro Botafogo está a Galeria Cavalo, que recebe agora a exposição “Tecidos” da artista Marina Weffort. Diferente de um espaço “cubo branco” o ambiente da galeria parece nos levar para outro lugar, ou até mesmo o ponto de partida do universo de produção da artista. Os materiais escolhidos para compor as obras da artista são materiais do mundo comum, do ambiente doméstico, nesse caso são tecidos, que agora se apresentam desfiados, em alguns casos, quase desfeitos.
Através de sua minuciosa operação Weffort retrocede o industrial para o manual, faz o caminho contrário à lógica evolutiva da indústria, redimensionando a posição do comum no mundo. O industrializado agora surge reprocessado, se revela como matéria prima bruta, usado em sua total potência formal. Destrinchados esses tecidos são elevados à escultura, desenho ou pintura.
A artista traça caminhos. São tecidos de cores claras, de presença leve e frágil. O trabalho é minucioso, é de desconstrução em ordem de construção. Cortes
geométricos estruturados na trama dos tecidos definem os espaços, vazados ou desfiados. Os caminhos ali traçados, por mais labirínticos que possam parecer, respondem sempre à trama, sempre horizontal ou vertical, qualquer ação fora dessa regra, anula o trabalho, tudo se desfaz.
Montados diretamente na parede, porem separados dela por poucos centímetros, esses tecidos exibem suas entranhas de maneira silenciosa. Esboçam exercícios de contenção e fuga, fluidez e tenção, vazio e cheio, projetam-se sobre a parede, e pulsam com o movimento ao seu redor.
Marina cria novos espaços. Seus tecidos são como plantas arquitetônicas, tem
limites e estrutura pré-definida, se parecem não fazer sentido como planta, é porque não são pensadas pera o corpo humano percorrer, são desenhos para que a luz e o ar percorra por eles, e para que de modo extremante delicado, eles também engulam o espaço ao seu redor.
Certa vez Cézanne disse “O que tento traduzir-vos é mais misterioso, emaranha-se nas próprias raízes do ser, na fonte impalpável das sensações”. É desse modo que Marina opera, razão, matemática e geometria se combinam em impalpável mistério.
Douglas de Freitas