John´s House Patricia Osses

11/05/2009 - 20/06/2009

Na sua primeira exposição individual em uma galeria, Patricia Osses apresenta trabalhos realizados quando habitou a casa do dramaturgo John Osborne (1929-1994), na Inglaterra. Tendo a literatura e a arquitetura local como referências, Patricia participou do programa promovido pelo Artist Links (British Council / Arts Council) em 2008, quando viveu entre Londres e Shropshire, o estado mais rural do país.

“Casas são livros de páginas muito grossas” – a frase, de um trabalho anterior, serviu de mote ao projeto de Patrícia, uma vez que a experiência em habitar um lugar estranho só existia por meio da leitura de contos e romances de escritores ingleses como Lewis Carrol, Virginia Woolf, irmãs Bronte e Jane Austen. Dentro do programa do British Council, Patricia pesquisou várias casas de escritores, escolhendo habitar The Hurst, casa construída no final do século XVIII, que teve como último proprietário o dramaturgo inglês John Osborne – que é o autor de Look Back in Anger (“Olhando para trás com ira”, 1956), obra emblemática do teatro moderno inglês, que gerou o termo “angry young men” para descrever a si e aos outros escritores de sua geração, que usaram a dureza e o realismo em contraste com produções escapistas anteriores.

Disponibilizada pela Arvon Foundation, instituição que oferece residências de criação literária a escritores, a casa estava inabitável e fechada há cinco anos aguardando restauração. Para preencher seus cômodos desocupados e, ao mesmo tempo, respeitar esse vazio, Patricia se valeu de elementos imateriais e efêmeros nos trabalhos, como sons, a luz, o reflexo de um espelho, flores e plantas colhidas no local, a contraposição de cores.

A obra de John Osborne orientou seu trabalho pelo passado recente da casa, criando relações entre a sua arquitetura, a luz do lugar, o idioma, a cultura, a cidade e o campo, o clima, as pessoas, o movimentar-se… o Habitar como forma de se relacionar profundamente com o lugar.

Mirror, o primeiro dos trabalhos desta exposição, convida a um percurso pelos interiores desolados da casa. É um ensaio fotográfico de 29 imagens (27 x 40 cm) que registram os espaços internos através do reflexo de um espelho redondo e côncavo. O espelho foi colocado sobre as paredes e pisos de cada cômodo para gerar as imagens. As distorções e as imperfeições da superfície de 200 anos aproximam o reflexo mais da pintura do que da fotografia, levando-nos por interiores de cores mais intensas, luz mais brilhante e transparente, perspectivas encurvadas. Os pintores Van Eyck, Vermeer e Velazquez são referências diretas, assim como o livro “Alice no espelho”, de Lewis Carroll, em uma edição antiga encontrada num vilarejo próximo. O espelho se transforma em um gigantesco olho pendurado pelas paredes, pelo qual conhecemos corredores, vãos e cantos de cada cômodo da casa.

Purple Green é um ensaio fotográfico com 07 imagens (100 x 70 cm) da performance realizada no exterior da casa, nos bosques e campos ao redor. A paisagem também faz parte da casa e de suas janelas: segundo John Osborne, era a melhor vista da Inglaterra. Patrícia se posiciona e percorre a paisagem, envolta em 50 metros de seda indiana, deixando atrás de si um rastro púrpura da cauda desse vestido interminável. O tom preciso de roxo cria um curioso paradoxo ao configurar o oposto complementar do verde dos campos ingleses. Na paisagem, um cavalo mascarado, um lago, uma torre, árvores monumentais quase irreais, mostram seu potencial de fábula quando justapostas à figura feminina.

No mezanino, é projetado John’s House, vídeo de 30 minutos, formado por curtas sucessivos de 1 a 3 minutos, correspondentes a cada cômodo da casa. No filme, o improvisador vocal britânico Phil Minton “canta” ao se deslocar pela casa – a proposta feita ao cantor foi preencher os interiores vazios com a voz de um homem cantando só. Os movimentos de Phil Minton foram dirigidos e filmados pela artista, assim como sua reação sonora às diferentes cores, cheiros, dimensões, ecos e luzes de cada cômodo.  Todas as possibilidades de uma voz (melodias, respirações, palavras, sussurros, rugidos, murmúrios, acordes, explosões e pausas) em um espaço há tanto tempo silencioso.

Ao fundo da galeria, um monitor exibe Green House, sequência em looping de fotografias: imagem única que no decorrer do tempo apenas revela um movimento sutil que evolui quadro a quadro. A estufa (green house) da casa encontrava-se praticamente vazia antes da instalação. Foi o primeiro dos trabalhos realizados na residência, no início da primavera. Plantas e flores foram colhidas nos jardins da casa e dependuradas de forma a cobrir internamente a parede de vidro da fachada. Por trás dessa cortina viva que preenche todos os espaços, um corpo se pressiona contra o vidro, deixando apenas entrever um braço, uma perna, um decote, a renda do vestido, expondo-se sem nunca revelar sua identidade.

Sobre a artista:

Patrícia Osses (Santiago do Chile, 1971), vive e trabalha em São Paulo.

Exposições recentes: John’s House – a work in progress, Beaconsfield, Londres (2008); Narrativas, Casa da Cultura, Ribeirão Preto (2007); Novas Direções, Galeria Oeste, São Paulo; Meca – Temporada de Projetos, Paço das Artes, São Paulo; Trilhas Metragens, SESC Paulista, São Paulo; Do corpo à casa, Da casa à rua, SESC Vila Mariana, São Paulo (2006); Ocupação, Paço das Artes, São Paulo; 4Hype – Arte e Música eletrônicas, SESC Pompéia, São Paulo; Centro Universitário Maria Antonia; Visualidade Nascente 14, São Paulo (2005).