Texto pela ocasião do Ciclo III da residência Pivô Pesquisa, São Paulo, 2022.

Por Tiago Sant’ana

Felipe Rezende usualmente cria a partir do desenho e da pintura, utilizando como suporte lonas, pedaços de pneus e objetos garimpados através de de ambulancias nos espaços urbanos. Por ter trabalhado na maquete da cidade de Salvador e também como assistente na construção civil, Rezende cruza essas duas diferentes experiências na elaboração de um imaginário sobre as cenas de trabalho. Distanciando-se de uma ideia meramente etnográfica, o artista investe em pessoas e gestos na elaboração de um repertório de cenas que nos induz a imaginar pequenos processos de escape durante o labor – questionando a própria lógica de exploração e de maquinização da vida operária. As obras de Rezende nos levam por caminhos que nos fazem pensar em quais são os fantasmas do trabalhador brasileiro, com o que ele sonha e, acima de tudo, quais são os seus delírios e estratégias de “cozinhar o galo”*.

*expressão utilizada para designar um ritmo menos acelerado de labor, uma espécie de “operação tartaruga”.