Para nos aproximarmos do invisível sem desejar vê-lo por Leonardo Araujo

Para nos aproximarmos do invisível sem desejar vê-lo

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Entendemos como invisível a percepção de algo que existe pois o denominamos, mas que por motivos físicos ou culturais, conceituais, políticos, dentre outros, não se desvela no campo da matéria . Queremos reunir o que passa desapercebido; o que se manifesta apenas na esfera das sensações sem receber nomes; o que é nítido para uns ao mesmo tempo em que é obscuro para outros . O invisível, como proposta, é um ponto de partida para refletirmos sobre o que é real para nós, mesmo que não se mostre aos sentidos. Como seria, no campo da arte, o desafio de fazer ver?

(dizem que existem muitas coisas invisíveis)
(todas as experiências particulares dizem ser invisíveis)
(mas me pergunto sempre o que posso diante da invisibilidade das coisas que consigo denominar)
(coisas e experiências)
(as duas coisas que são coisas distintas podem ser ou não existentes)
(disse-me sempre que a arte torna visível o invisível)
(mas paul klee já faleceu em fôlego atrasado)
(pois se a arte tem fôlego existe no momento de sua realização)
(pelo menos depois que passa ela se torna sempre visível)
(porque a experiência da arte é individual)
(um levisivni)
(para pensar o invisível agora eu tenho que pensar antes dele)
(podemos pensar que a descrição de uma experiência é sempre uma criação já que a experiência nunca será universal)
(podemos dizer que chegamos no lugar da ficção)
(mas mesmo assim a descrição de uma experiência tende tornar o particular em algo
universal)
(e todas as imagens que a descrição da experiência invisível pode trazer serão de alguma maneira visíveis)
(pelo menos individualmente mesmo sendo a descrição uma proposição universal)

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Como saber quando um detalhe parece realmente verdadeiro? O que nos guia? O teólogo medieval Duns Scotts deu nome de “estidade” ao processo de individuação … A estidade é um bom começo. Por estidade entendo qualquer detalhe que atrai para si a abstração e parece matá-la com um sopro de tangibilidade; qualquer que concentra
Nossa detalhe atenção por sua concretude.

(este parêntesis inicia um pequeno texto que fica entre as duas palavras que ele se encontra)
(este texto que esta em todos os parênteses faz referência ao texto de fora deles)
(o texto de fora é parte do verbete de número quarenta e sete do capítulo Detalhe do livro “Como Funciona a Ficção” do crítico literário James Wood)
(James Wood neste livro tenta presunçosamente “ensinar” o leitor a entender como ler a ficção literária para possivelmente depois escreve-la)
(mas pensemos que antes de escrever a ficção o indivíduo deve estar devidamente evoluído)
(e sua evolução depende do movimento exercido até sua maturidade)
(que é determinada pelo processo de desvencilhamento da identificação que teve com as coisas do passado para o acolhimento da diferença que deve ter das coisas no e do futuro)
(neste processo encontramos o constante presente)
(que se justifica a partir da conscientização do indivíduo para com seu poder de criação)
(o que transforma particularmente o indivíduo)
(assim o indivíduo inicia-se em sua própria transgressão)
(no momento do presente em que percebe que criaram sua história na história
das coisas)
(e que todas as coisas não são mais do que o detalhe do presente que se torna representação no futuro)
(uma mimese da ficção inicia-se invisivelmente em sua mente)
(ele está criando a si mesmo na criação do mundo)

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A história, como lugar de criação ou relato do passado, nosso tema de aprendizado, apenas nos é passível de imersão através da linguagem. Toda nossa experiência estética e racional do passado, ou da história, é completamente inseparável do discurso criado sobre nós mesmos. O discurso da história teve de ser escrito antes de se tornar a história que conhecemos, ela teve de ser mediada pela escrita de seu próprio discurso, para que assim conseguisse se indissociar da maneira em que nos convence de ser nossa história. A relação obrigatória da história com o passado faz-nos compreender, antes de tudo, sua necessidade social de ser escrita. Sendo que o caráter histórico da própria historia que contamos para nós mesmos é a comunicação dos acontecimentos do passado de nossa história. Porém, é com os olhos voltados a crítica – sabendo-nos ser seres que divagam e refletem sobre si mesmos – que deveríamos almejar a escrita à história e a história à crítica. Ao percebermos a história sendo contada de modo que tivesse causado uma evolução significativa nos modos de literatura que constituímos hoje, evolucionando e revolucionando a linguagem , podemos compreender no mínimo que o problema ou solução dos escritores da história – os historiadores -, é a interpretação. Ou melhor dizendo , é a crítica dos contextos dos acontecimentos reais no momento em que se escreve sobre o passado. O presente se justapõe ao passado no momento em que se escreve, já que ele influencia a escolha dos fatos do passado a favor de seu próprio contexto presente. Então poderíamos dizer que a história se vale da narrativa para discernir os possíveis fatos reais do passado, para assim tornar-nos passíveis de entender as decorrências da história. Assim, a partir da escolha e do interesse dado pelo entendimento do passado e pelo vislumbre dado pelo presente no futuro, toda escrita narrativa histórica não seria senão uma crítica de nossa própria escrita da nossa própria história.

(quando algo é colocado no mundo)
(de forma fictícia ou não)
(existe de alguma forma)
(tanto em discurso como em objeto de)
(não importa a sua forma de existência)
(interessa sim apenas sua existência)
(criar algo e coloca-lo no mundo material/verbal/virtual)
(seja o que for)
(faz parte do que acreditamos por realidade)
(ou que faz parte de uma denominação)
(real)
(que criamos para nos assegurar em nossa existência)
(o homem só conhece o que ele mesmo coloca no mundo)
(de forma que)
(se um homem coloca algo no mundo sem precedente contextual ou mesmo com pretensão fictícia)
(esse objeto físico ou verbal tem um caráter essencial de existência)
(pois sua natureza é criadora)
(se tudo o que é criado e por conseguinte posto no mundo)
(adverso de seu caráter de veracidade)
(existe enquanto realidade pois podemos dizer que a própria denominação do real é uma de nossas melhores criações)
(a realidade nesse caso em nada se confronta com a noção de falsidade e/ou ficção e/ou verdade)
(se existe é realidade)
(assim a existência de algo criado pelo homem demanda seu caráter de realidade)
(que ao mesmo tempo não se predispõe com o seu caráter de veracidade)
(mas se é possível pensar que a realidade de algo é passível a partir de sua existência)
(então a veracidade da existência de uma ficção se dá por falsa)
(apenas por que ela esta posta e por ter sido anteriormente criada)
(o objeto posto enquanto objeto criado existe)
(é real)
(e só por consequência tem vontade verdadeira)
(mas seu conteúdo fictício ou não pode apresentar caráter diverso da verdade)
(nesse sentido)
(a única verdade que sabemos desse suposto objeto criado é que ele existe)
(e se existe é real)
(tanto ele)
(este objeto posto)
(como o que consideramos real)
(são confrontados pela criação deles mesmos)

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São duas histórias que escutaram. Para nós são uma só agora. A primeira era sobre um fotografo. A segunda sobre o calor que as partículas dos átomos geram. A nossa, é sobre a magia. Talvez seja conhecido de muitos a história dos terreiros de candomblé de Salvador-BA), que foram caçados, destituídos, destruídos, quebrados e desapropriados arduamente durante a ditadura militar – e são até hoje – e que, na mesma medida e proporção foram construídos, legitimados, reconstruídos, remendados, reapropriados e restituídos fortemente pelos pais e mães de santo e seus trabalhadores. Para gerar um terreiro necessitasse de muito trabalho. Para dotar um objeto, santo ou o que for de poder, é necessário trabalhar muito. É necessário gerar calor. É necessário que o movimento provindo do trabalho gere tanto calor que o objeto se dote, naturalmente com o tempo do trabalho, de uma enorme energia. O outro que mantém relação de trabalho com este objeto não obrigatoriamente o domina, mas o transforma ao mesmo tempo que se transforma, pois toda geração de calor deseja de ambas as partes que elas trabalhem. Se um objeto pode trabalhar sozinho nós não sabemos, mas que ele trabalha em relação ao todo que o cerca é uma certeza sem tamanho. O que acontece é que o fotografo trabalhou para dar energia ao trabalho em dar energia aos objetos realizados aos que trabalhavam para isso. O que acontece é que o calor existente na realização de toda essa atenção ao trabalho se tornou tão enorme que não pode existir, pois o calor nos aproxima do medo de queimar, do medo de sermos poderosos. No momento em que um terreiro é destruído, que seus objetos de poder são destruídos ou levados, o terreiro perde os pontos de trabalho. Perde com isso toda a energia que nele continha, que nele se fazia presente através de um trabalho constante, de um movimento constante. Ao perder, o terreiro deve recomeçar, e retomar o movimento é ainda mais trabalhoso, pois o que se premedita é voltar rapidamente aos trabalhos que ali estavam acontecendo. Uma certa urgência se faz presente. Neste exato momento de retomada, o terreiro se torna ainda mais energizado, produzindo movimentos mais rápidos, mais numerosos e mais atenciosos, a geração de calor é maior, a detenção de energia é mais densa e assim obtêm-se, mesmo sem desejar, mais poder. O fotografo trabalha junto. A partir de todo esse calor, gerado pelo movimento de trabalhos de vários, que dota o lugar e seus objetos de energia é que podemos dizer que existe magia, sem itálico ou aspas para acontecer neste texto, neste trabalho que é nosso. No momento em que se reconhece ao objeto seu poder acontece magia.

(esse é um movimento continuo e recorrente da História)
(mas a história não conta o que não se conta)
(e nossa história não deveria vir com “h”)
(muito menos em maiúsculo)
(já que não reconhecemos nossa história na História)
(poderíamos facilmente deixar de escrever história e nos deixarmos a limpa visualidade da istória)
(a fonética não muda)
(mas a língua assume o exercício ligeiro de nossa experimentação)
(do nosso desejo de desejar a linguagem)
(do desejo de desejar fazer parte da história a nossa istória)

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O presente, a experiência e a criação são as únicas coisas infinitas. Na concepção ocidental sobre conhecimento, podemos distinguir dois procedimentos que poderiam alcançar o entendimento que se dá entre um objeto e um sujeito. Cientificamente, o caminho percorrido é o de desmembramento e estudo das partes do objeto em que se debruça o estudo. Filosoficamente, a estrada percorre as significações e as camadas de possíveis entendimento da experiência com o objeto, levando assim um estudo imbricado na reflexão da causa e consequência dele. Porém, no estado de criação, um objeto pode ser conhecido a partir da experimentação do sujeito em relação a ele, do embate do corpo e mente com a materialidade e significado do objeto, do contexto dele com o indivíduo que o mantém em estado de investigação no meio. O conhecimento neste caso é uma constante, não é um fim, nem uma causa, é um projeto infinito de debruçamento que percebe o objeto em rede, na compartibilidade de suas partes com o contexto. Assim é a linguagem, um campo desértico, escuro e desconhecido de criação, experimentá-la é experienciá-la.

(a busca pela realidade ou pela verdade no âmbito da cultura contemporânea é algo ilusório)
(o que existe muitas vezes é a representação)
(que almeja ser)
(na proximidade ao real ou na construção fictícia dele)
(arte)
(com relação ao filósofo que abrange um movimento quase por completo pendular na vida)
(como a busca grega pela verdade)
(é em si uma coisa conhecida inacessível)
(já que o ato de filosofar nesse sentido é justamente a busca da verdade em que reconhecemos a inexistência de uma única verdade que justifique as coisas)
(criação > existência > realidade > verdade – porque está posto)

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Meu Computador, Facebook, Feed de Notícias, Postagem do Pascoal, Vídeo de Celular, 26 de abril de 2015, IMAGEM DOCUMENTAL EXPERIENCIADA. Lá estava eu, mais um dia perdendo muito tempo da vida passando os dois dedos no mouse, baixando o feed de notícias do facebook para ver se encontrava algo que me prendesse a atenção por qualquer instante de tempo. Para retirar de mim a angustia nervosa em passar mais um domingo. Descia o feed, descia as notícias subjetivas da vida dos outros, descia a vontade de não ter vontade nenhuma de fazer aquilo, mas que continuava fazendo. Manter-me fazendo aquilo era o mesmo que manter-me a procura de mim mesmo. Me deparo com uma postagem de um grande amigo que tive no período que constituía meu caráter. Ali parecia que me encontraria. Encontrei o outro em mim. Era um vídeo. Tinha cerca de um minuto. Começava com uma mulher equilibrada de pé no parapeito do Viaduto do Chá, perto do Teatro Municipal, quase pulando para baixo, pro chão extenso de pedras baianas do Vale do Anhangabaú. A pessoa que filmava estava na parte do chão do Vale. O angulo era aberto e dava uma imagem poderosa àquela mulher. De baixo para cima. Parecia que ela detinha o comando de tudo que havia de acontecer. Não demorou muito e ela tentou pular. Quatro homens que estavam próximo dela, na parte de cima, ante o parapeito, que tentavam argumentar para que ela não pulasse, conseguiram a segurar pelo braço direito, antes que ela flanasse por mais de quinze metros de pé direito. Os gritos eram audíveis a todos. Os homens não falavam quase nada, apenas gemiam a força que faziam para aguentar o peso da mulher. E a mulher, a mulher gritava, ela desejava voltar ao seu lugar de poder, ao desejo da vontade de se surpreender consigo mesma. Não demorou muito e ela escorregou, caiu mesmo. Os gritos dela fizeram o seu corpo gerar calor suficiente para não parar de mover as pernas em nenhum instante. E os homens não puderam manter a concentração. Não puderam aguentar o silencio que se fazia dentro deles. Não puderam desejar a morte deles mesmos mais que a dela. Não aguentaram a gravidade, a maturidade de envelhecer. Ela chegou reta no chão, deitou horizontalmente e fez o único barulho, som, compreensível naquele momento. O som da morte. O som que é estranho aos vivos. O som que não parece nunca vir de quem ou o que o produz. Mas o filme continuou e só terminou quando qualquer som não pudesse ser ouvido por nenhum espectador, eu.

(é importante dizer antes de tudo que nenhum texto pode substituir a experiência da imagem, porém a experiência do texto como uma imagem que referência a si mesmo)
(sem ilustrar outra imagem externa a ele)
(é a meu ver a maneira mais próxima que podemos chegar da constituição)
(se possível for)
(de algum conhecimento de algo que tangencia uma experiência)
(o que quero dizer é que se conseguirmos nos distanciar da descrição de uma imagem)
(como uma imagem de referencia a ela concedida)
(poderemos no mínimo deixar que a experiência da imagem possa causar uma reflexão mais aprofundada da experiência que podemos ter com ela)
(mas isso só é possível se pudermos unir estas duas mesmas experiências em um mesmo patamar de entendimento da imagem)
(ou da tentativa de entende-la)
(seria de difícil acordo hoje discutirmos as diferenças da experiência dos fenômenos da vida e das imagens que obtemos destes fenômenos)
(a interface virtual constituída pela internet vem dissolvendo cada vez mais a dissonância destes parâmetros)
(se a alguns anos falávamos um para o outro, nos encontros possíveis dos corpos dos indivíduos que nos constituem)
(que existia uma grande diferença entre presenciar uma imagem ao vivo e ver a imagem documental dela)
(hoje podemos dizer que a experiência da realidade da imagem tem se aproximado cada vez mais do que sabemos sobre ela)
(sua descrição)
(é dentro desse sentido ambíguo que viemos construindo, sobre o significado verdadeiro ou falso da experiência)
(que se encontra a maneira a qual soubemos entender a dissolução do sentido deste termo)
(representação)

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Uma vez, uma pessoa que leu um livro, nos contou-nos que existia uma sociedade “indígena”, vivendo em algum lugar, há algum tempo, e que essa não conhecia outra sociedade que não fosse a que essa mesma sociedade conhecia, ou seja, a própria sociedade que eram. Como não nos recordamos dos substantivos que os nomeiam, nos permitimos aqui inventar, para apenas apresentar o que são os fatos empíricos das coisas. Como também não lembramos bem dos adjetivos que os caracterizavam e que são suas qualidades, vamos contar apenas as relações que essa sociedade matem com esses adjetivos. Assim como também não recordamos a quantidade deles, os numerais inventados por essa sociedade e muito menos o numeral que os limitam, nos propomos a apenas compara-los com as nossas experiências. Pronto. A sociedade se chamava Xinaubô, os Xinaubô. Mas seu nome não foi dado pelos próprios, só conheceram o seu primeiro substantivo, nome próprio, após terem o primeiro contato com os Xinaubaté, denominado também pelos próprios Xinaubô. Os Xinaubaté também, antes de encontrarem os Xinaubô, não tinham nome e também não haviam se auto denominado, pois não conheciam outra sociedade que não fossem os Xinaubaté. O estranho é que, tanto os Xinaubô quanto os Xinaubaté se comunicavam através de uma mesma linhagem linguística, que foi denominada pelo órgão nacional de proteção às sociedades indígenas de onde se encontravam como a língua – de dois distintos mas próximos dialetos – Xinaú. Mas o porque dessas sociedades terem a mesma língua nós não nos sabemos explicar. Os Xinaubô ao encontrarem os Xinaubaté, e vice e versa, disseram uns aos outros: “Nós somos verdadeiros, temos costumes verdadeiros”. E disso surgiu um conflito, existiam dois verdadeiros e um não poderia ser mais verdadeiro que o outro, pois agora cada um conhecia outro tipo de verdadeiro que não era o seu. Então, para não perdurarem no conflito, cada sociedade significou a outra sociedade a partir de seus costumes. Os Xinaubô foram denominados pelos Xinaubaté com a conjunção Bô, porque Bô significa “onça da noite”, por terem o costume de andarem durante a noite pela mata. Os Xinaubaté foram denominados pelos Xinaubô com a conjunção Baté, porque Baté significa “pássaro do dia”, por terem o costume de acordarem antes de amanhecer para caçar e plantar. Mas, nenhuma das sociedades gostou da denominação que foi dada, pois cada uma a sua maneira percebiam os nomes dados como ofensas. Para os Xinaubô as onças eram justamente os animais que roubavam suas crianças durante as noites, e isso explica o costume deles de estarem em vigília noturna ao redor da habitação da própria habitação. E para os Xinaubaté os pássaros do dia eram os que roubavam todos os frutos e sementes ao amanhecer, por isso acordavam muito cedo, para manterem vigília e salvaguardarem seu roçado. Mesmo assim, as duas sociedades, sabendo agora onde cada uma estava e o que podiam compartilhar, mantiveram contato, escambo e até uniões afetivas. Passou-se muito tempo e os grupos ainda se referiam uma a outra do mesmo modo. Até que pela primeira vez apareceu um Putorí, um “não-nós”, o que na significação sintática das duas sociedades era quase um não-verdadeiro, pois não mantinham costumes verdadeiros. Um Putorí, para nós aqui, seria um homem branco. O Putorí, rapidamente trouxe outros Putorí. Os Putorí eram do órgão nacional de preservação às sociedades indígenas. Ao apreenderem lentamente a língua Xinaú, denomina com esse nome pelos próprios Putorí, começaram a entender o que a palavra Xinaú significava. Xinaú significa “homens verdadeiros”. Então, denominaram a língua das duas sociedades como Xinaú, mas mantiveram chamando os Xinaubaté e os Xinaubô de como os próprio de denominavam, porém, com uma mudança, retiraram o Xin, que significa verdadeiro em Xinaú, ficando assim as denominações Aubaté e Aubô, mantem apenas as significações ofensivas que as próprias sociedades não gostavam. Au significa, para as duas sociedades, homem, enquanto que para os Putorí, índio. Desse modo, para os Putorí, Xinaú significa “índio verdadeiro”, enquanto que para as sociedades “homem verdadeiro”. Assim, a partir de diversos relatórios escritos pelos Putorí e com a visita cada vez maior de antropólogos, também Putorí, trazidos pelos Putorí já conhecidos, o mundo inteiro conhece as duas sociedades hoje como sociedades irmãs chamadas Aubaté e Aubô. Ao perceberem que os Putorí chamavam os Xinaubaté e os Xinaubô unicamente do que os ofendiam, retirando a conjunção Xin (verdadeiro), e entendendo que Au para os Putorí era outra coisa que não homem, tanto os Xinaubô quanto os Xinaubaté começaram a se chamar apenas de Xinaú, que significa “homem verdadeiro”. E até hoje, os Xinaú continuam a chamar os Putorí de Putorí e não conversam com os Putorí se os chamarem de Xinaubô ou Xinaubaté.

(os limites da linguagem são os limites do meu mundo)

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No budismo há muita coisa que não sabemos. Há também as coisas que sabemos e que não se explicam. Há as coisas que se explicam muito, mas que não conseguimos saber. O silêncio e o universo são justificados através de narrativas metafóricas que contam ensinamento. Ensinamentos não são necessariamente uma pedagogia falaciosa, mas um reclame que o universo faz à interpretação que fazemos da realidade, das experiências vividas. Quando

Leonardo Araujo