Blown Up Miguel Aguirre

16/11/2010 - 23/12/2010

A partir de uma seleção de fotografias de imprensa, nas quais a diplomacia internacional e a política brasileira se relacionam com o futebol, Miguel Aguirre (Lima, 1973) amplia em escala humana detalhes destas imagens e simula, com papéis perfurados e impregnados de tinta, o mecanismo da impressão offset para questionar a construção da imagem e seus possíveis usos políticos.
Estas imagens mostram o futebol como um grupo de pertencimento. Lula fotografa Fidel Castro com um moletom da Nike, Maradona abraça Hugo Chávez, Hilary Clinton é fotografada com Amid Karzaj ao lado de vendedores de bolas de futebol, Lula e Dilma celebram uma vitória política como campeões de futebol ou Ahmadinejad recebe uma camiseta da seleção brasileira.

Miguel seleciona e amplia um detalhe de cada imagem para encontrar outra leitura estética e política, eliminando na imagem o papel central das figuras políticas e recuperando-o textualmente, ao utilizar as legendas das imagens nos títulos de suas obras.

O Punctum de Roland Barthes refere-se ao detalhe que gera a totalidade da imagem fotográfica. Ampliar o Punctum fotográfico em escala natural nos aproxima de uma realidade estranha e distorce a presença do real. Nos detalhes escolhidos por Miguel Aguirre, acentua-se a relação entre têxtil e corpo: o uniforme esportivo cobre o rosto, enquanto mãos seguram uma camiseta como se fosse uma bandeira.

A roupa nos diferencia e revela nossa origem. Como o Sudário de Turim ou o Véu de Verônica, o tecido torna-se receptor da verdade. Assim, os trabalhos apresentados não são pintados sobre papel, na realidade, é a própria tinta que atravessa o material.

As perfurações desenham o punctum e a pintura aplicada no verso do papel é filtrada, exposta e encoberta, assim como roupas sobre a pele.

Construídos a partir de imagens processadas industrialmente, gesto e linha desaparecem. Tinta e papel geram imperfeições imprevisíveis. Estes blown ups da fotografia de imprensa pervertem a famosa frase de Robert Capa “Se sua fotografia não é boa o suficiente, você não está perto o bastante.” O artista, incapaz de aproximar-se do momento real, aproxima a imagem impressa na busca de um momento morto.

Miguel Aguirre nasceu em Lima em 1973. Vive e trabalha em Barcelona. Suas obras fazem parte de importantes coleções públicas e privadas como: MALI (Peru); Micromuseo (Peru); Fundación Telefónica (Peru); Banco de Crédito del Perú (Peru) Fundación José Ortega y Gasset (Espanha); MIDE (Espanha).

Antoine Pierre Jean Henry Jonquères para o LiMAC

www.li-mac.org